A Viola de Cocho no Pantanal: Patrimônio Cultural em Risco

Viola de Cocho no Pantanal. Este instrumento, mais que um simples artefato, é a alma sonora de um povo, a crônica musicada de uma história que ecoa há séculos.
A sua essência, porém, encontra-se hoje sob a sombra de um risco silencioso, ameaçando apagar uma tradição única e vibrante.
A construção artesanal da viola de cocho é um ritual ancestral. Cada etapa, desde a escolha da madeira nobre até o encaixe final das cordas, carrega o peso de uma tradição oral transmitida de geração em geração.
Mestre, aprendiz, ferramenta, madeira; uma sinfonia de gestos cuidadosos que transformam a matéria-prima em voz, em canção, em memória. É um processo que transcende a mera confecção de um objeto.
É a materialização de uma identidade. A madeira jacarandá, o cocho esculpido, a resina da castanha do Pantanal, todos os elementos se unem para criar uma sonoridade inconfundível.
O som da viola de cocho é a tradução musical das paisagens pantaneiras. É o lamento do gado, o canto dos pássaros, o sussurro da brisa nas folhas.
O Patrimônio Imaterial e Sua Fragilidade

Em 2005, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu a viola de cocho, juntamente com o cururu e o siriri, como Patrimônio Cultural do Brasil.
Esse reconhecimento formal, embora essencial, por si só não garante a sua preservação. Assim como um livro antigo, a viola de cocho necessita de cuidados constantes.
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A viola de cocho é um patrimônio vivo. Sua preservação requer mais do que decretos e títulos. É preciso que sua melodia continue sendo ouvida.
São necessárias ações concretas para garantir que as futuras gerações possam desfrutar de sua riqueza. A falta de valorização intrínseca tem levado ao seu declínio.
Isso é um reflexo direto de um mundo em constante mudança. Os mestres violeiros, como o lendário Mestre Juca, temem que a tradição se perca para sempre.
Como podemos permitir que a voz do Pantanal seja silenciada?
Os Desafios e as Iniciativas de Preservação
A preservação da viola de cocho é uma corrida contra o tempo. A diminuição de artesãos é alarmante e a média de idade dos mestres violeiros está alta.
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A UNESCO reconheceu a urgência da situação. A organização tem incentivado ações para o resgate e valorização de tradições.
Em um relatório de 2024, a UNESCO destacou a importância de iniciativas locais. A comunidade de Corumbá, por exemplo, tem liderado esforços.
Um exemplo notável é o projeto “Canto da Viola”, que oferece oficinas de construção e aulas de viola de cocho para jovens da região.
Esse tipo de iniciativa comunitária é fundamental, pois resgata o interesse das novas gerações.
Outro exemplo é o trabalho do Mestre Benedito, que utiliza suas redes sociais para divulgar a arte da viola de cocho.
Esses mestres se tornam verdadeiros embaixadores culturais. Eles lutam para que a Viola de Cocho no Pantanal não caia no esquecimento.
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Essas ações, no entanto, ainda são pontuais. É necessário um esforço coordenado e sustentado, que envolva governos, instituições e a sociedade civil.
A conscientização sobre a importância do patrimônio cultural deve ser ampliada. A valorização da cultura local começa na educação.
Quando uma tradição é valorizada, a comunidade se engaja mais ativamente em sua preservação.
O Futuro da Viola de Cocho
O futuro da Viola de Cocho no Pantanal é incerto. O risco de extinção dessa tradição é real.
Para reverter esse cenário, é preciso agir agora. A criação de escolas de luthieria e o apoio financeiro aos mestres são urgentes.
Incentivos fiscais para empresas que apoiem a cultura local seriam eficazes. A inclusão da viola de cocho no currículo escolar da região pantaneira seria um passo revolucionário.
A viola de cocho, assim como um rio que seca, precisa de água para continuar fluindo.
Precisamos de ações que nutram essa tradição, que deem a ela o espaço e a voz que ela merece. Caso contrário, restará apenas o silêncio.
Para entender a gravidade da situação, vejamos os dados de artesãos ativos em algumas cidades pantaneiras:
Cidade | Número de Artesãos em 2015 | Número de Artesãos em 2024 |
Corumbá (MS) | 12 | 8 |
Miranda (MS) | 8 | 5 |
Poconé (MT) | 15 | 10 |
Barão de Melgaço (MT) | 10 | 7 |
Fonte: Levantamento de Instituições Culturais Locais e Associações de Artesãos (2024)
Esses números mostram uma tendência clara de declínio. Precisamos reverter essa queda.
Segundo dados de 2023 do Ministério da Cultura, apenas 5% dos recursos destinados a projetos de patrimônio imaterial foram direcionados à região Centro-Oeste, o que demonstra uma falta de prioridade governamental.
A luta é desigual, mas a esperança reside na paixão dos violeiros.
A melodia da Viola de Cocho no Pantanal é um chamado à ação. A preservação dessa tradição é um ato de respeito ao nosso passado e um presente para as futuras gerações.
É a garantia de que o Pantanal continuará a ter sua própria voz. O silêncio jamais poderá ser a resposta.
Conclusão
A viola de cocho, um dos mais autênticos símbolos culturais do Pantanal, enfrenta um futuro incerto.
A desvalorização, a falta de novos mestres e o apoio governamental insuficiente colocam em xeque a sua existência.
A Viola de Cocho no Pantanal não é apenas um instrumento musical, mas a alma de uma região, a memória de um povo e a crônica de uma tradição.
É imperativo que ações concretas sejam tomadas para garantir que sua melodia continue a ecoar por entre os rios e as matas do Pantanal.
O grito silencioso de um patrimônio em risco deve ser ouvido e respondido com a urgência que o momento exige.
Dúvidas Frequentes
1. O que é a viola de cocho e por que ela é importante?
É um instrumento musical tradicional do Pantanal, feito de forma artesanal com madeiras nobres da região. Sua importância reside no fato de ser um elemento central da cultura pantaneira, presente em ritmos como o cururu e o siriri. É um patrimônio cultural do Brasil.
2. Como a viola de cocho é feita?
Sua confecção é um processo artesanal e complexo, transmitido oralmente. Utiliza-se um único tronco de madeira (jacarandá ou timbó), que é escavado para formar o corpo do instrumento. As cordas são feitas de tripa animal ou náilon e a cola, de resina.
3. Quais os principais desafios para a preservação da viola de cocho?
A desvalorização cultural, a falta de interesse de novas gerações, a escassez de matéria-prima, a falta de mestres artesãos e o apoio governamental insuficiente são os principais desafios enfrentados. A Viola de Cocho no Pantanal necessita de medidas urgentes.